quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

:: Janis Joplin ::

O Hippie ruleia!
- Bernardo Santana -

Todo mundo conhece a historinha do "achei um disco na pilha do meus pais quando era criança...", né? Pois é, lá nas priscas eras, entre uns Moraes Moreiras e Cartolas (Valeu, pai!) eu achei o dessa tiazinha bagunçada. Nem rádio eu ouvia ainda e o grunge era só um gametinha quase lá, então dá pra dizer hoje que foi a primeira vez que eu gostei de verdade de um disco de música roque. Eu não sabia que a moça já tinha morrido, nem que Pearl era um disco póstumo... Não sabia que Janis Joplin era o espírito hippie encarnado, nem que suas bolachas anteriores prometiam mais que entregavam... e mesmo assim...

Hoje, ouvindo o disco uns quase vinte anos depois, o bichinho só cresceu. Continua lá com seus clássicões, que dispensam pagação: Move Over, Cry Baby, A Woman Left Lonely, Mercedes Benz, Me And Bobby McGee, My Baby... Seis sons sensacionais em dez. E o melhor é que o que não é perfeito ainda é de alta qualidade. Liberada de suas duas bandas anteriores — meio mambembes —, Janis Joplin se espreguiça na cama cheia de blues/R&B criativo que a Full Tilt Boogie Band arma e ensina pras jovenzinhas criadas com leitinho com pêra da música atual como se engasgar com o próprio coração.

Como pode-se adivinhar, as letras passeiam entre a temática tradicional da música negra americana do século passado e o protesto social antimaterialista do final da década de 1960. Na época, nada fora de contexto, mas ainda assim marginal e contracultural até a medula. E parece que tinha bastante gente disposta a escutar na época: Pearl foi o maior sucesso comercial/de crítica de Janis Joplin e até hoje aparece por aí em listas de "200 melhores qualquer-coisa". Uma pena que antes mesmo do disco ver a luz do dia, a cantora texana tenha finalmente sido derrubada pela heroína.

Vão-se os mitos, ficam os posts.

DOWNLOAD: 58 Mb - 10 faixas

domingo, 27 de dezembro de 2009

:: Projetores Sujos ::


:: DIRTY PROJECTORS ::
por Eduardo Carli de Moraes

"I want to believe that the creative life is a sustainable life, and that
invention is an endless renewable resource. It's depressing to think of
creativity as psychic deforestation -- I don't want to be bald at the end of this.”
--- David Longstreth

Projetores sujos não necessariamente estragam o filme: talvez o deixem mais vago e onírico, surreal e bizarro, psicodelizando o que seria sem graça se viesse sem distorções. Imaginem que massa um filme de David Lynch ou Guy Maddin projetado por lentes imundas sobre um lençol esvoaçante! Talvez ter isto em mente ajude os viajantes a curtirem a estranhíssima viagem de cinema auditivo que o Dirty Projectors nos oferece com seu Bitte Orca, um dos discos mais celebrados (e esquisitos) de 2009.

Este sexteto de Nova York, liderado pelo inventivo David Longstreth (possuidor dum diploma responsa de composição musical em Yale), não tem alergia à esquisite nem o mínimo medo de ser weird(o). Prova da aventurosidade destes arteiros é o álbum de 2007, Rise Above, onde regravaram um clássico do punk (Damaged, do Black Flag) inteiramente "de memória". Ou seja, entraram no estúdio para coverizar um álbum que não ouviam há mais de 10 anos, marco de suas adolescências, desconstruindo e re-criando, sem nenhuma vontade de soarem fidedignos, as ferozes pepitas de Henry Rollins & Cia. O bizarro resultado é semelhante ao que ocorreria se o Belle & Sebastian, por exemplo, regravasse Fresh Fruit For Rotting Vegetables, do Dead Kennedys.

Já no novo álbum, universalmente aclamado como o ápice da carreira da banda, os Projectors viajam felizes por um amplo espectro sonoro, realizando "uma perfeita união entre excentricidade e acessibilidade" (como diz a resenha do A.V. Club). "Virtuosístico mas lúdico, imprevisível mas acessível, Bitte Orca não é um álbum de gênero, encapsulando idéias em demasia para poder ser arquivado convenientemente sob o rótulo 'indie' ou 'experimental'", escreve a Slant (que os compara aos Books, aos Battles e ao Of Montreal).


Findo este 2009, ano fértil em experimentalismos (a julgar pelos álbuns do Animal Collective e do Grizzly Bear, ambos incensados pela crítica mundial), o Dirty Projectors vê-se sagrado como uma das bandas de saco-mais-puxado pelos cri-cris: Bitte Orca foi eleito o 2º melhor disco do ano tanto pela revista Time (ficando atrás de Brad Paisley) quanto pela Pitchfork (que elegeu o Animal Collective) – dois vice-campeonatos de muita responsa. Entrou ainda no 6º posto da Rolling Stone e no 4º da Pop Matters. Como se não bastasse, eles têm feito timinho com jogadores de peso, como o Talking Head David Byrne (fizeram juntos um som pra coleta Dark Was The Night).

Mateus Potumati, do +Soma, destaca que a banda gerou "uma onda violenta de reações que vão da adoração efusiva - aí inclusos nomes como David Byrne, Arto Lindsey e Caetano Veloso - ao ceticismo e ao mais franco desprezo". Isso devido ao radicalismo de "sua abordagem vanguardista de estilos variados como o punk, o indie rock, a no-wave, o pós-punk, a música africana, o hip-hop, a composição européia contemporânea e os ares tropicalistas".

Em sua primeira passagem pelo Brasil, o sexteto desfilou seu excêntrico som em São Paulo, Rio e Goiânia (e Depredando esteve nesta última para conferi-los!). Com o cancelamento da turnê latino-americana do Supersuckers (os caipiras-punk tiveram problemas com o visto), os Projectors alçaram-se ao nível de headliner gringo principal do 15º Goiânia Noise, festival que têm procurado trazer novidades do cenário internacional que estão despontando coroadas de elogios da crítica mundial -- como foi o caso com o Black Lips e Black Mountain em 2008 e o Battles em 2007.

O Dirty Projectors, sobre o palco, emanava esquisitice. Um tanto fora-de-contexto num dos dias mais noisy do festival, subiram ao palco do Centro Cultural Martin Cererê depois que tinham passado sobre os tímpanos do público verdadeiros rolos compressores de barulho assassino: o stoner rock do Black Drawing Chalks, o pãnque-métal do Mechanics e o tosqueira'n'roll das Mercenárias. Foi um tanto estranho ver a boniteza folk "Two Doves", cantada lindamente pela gracinha da Angel Deradoorian, com uma guita limpinha a acompanhando, depois de tanta balbúrdia e insanidade. O que para alguns foi um começo "morno" me pareceu, muito mais, um prelúdio sussa para uma viajada jornada que, aos poucos, foi conquistando o público - que pode ter entendido pouco, mas que soube abandonar-se a sentir muito.

Me pareceu que os Projectos ouviram os discos dos Talking Heads com muita devoção, em especial o clássico Remain In Light (1980), mas que tentam simular aqueles cabulosos grooves criados por Byrne & cia sem antes dar um rolê, pelo menos, por Funkadelic e Sly & The Family Stone - pra não falar em malandros remolejos africanos. Mas dá pra notar que estão indo na ondinha de valorização das sonoridades africanas, que conta com outros defensores no Vampire Weekend, desconstruindo os clichês do pop sem medo de cair na bizarria.

Pasmo frente à estranheza do show, eu me perguntava quando é que o vocalista tinha sido liberado do hospício e quando foi que tinha começado a perceber que fazer música podia ser boa terapia contra a esquizofrenia... Não à toa já andam chamando Longstreth de “mad genius”! Ele parecia quase às beiras de ter un "ataques epiléticos" à la Ian Curtis, mas não tinha o mínimo “pudor” em fazer suas “dancinhas” - uma delas que eu logo apelidei de “pescocinho”, em que ele ficava bicando o ar como uma galinhazinha de pescoço de elástico que algum adolescente peralta tivesse feito fumar maconha... (Desculpem, mas só metáforas muitíssimo estranhas descrevem a coisa!).

A guitarrinha de Longstreth, mais rítmica do que solante, é do tipo que nos deixa indecisos quanto ao talento do músico, mas que não deixa que se duvide do quanto ele é criativo e amalucado ao lidar com suas próprias limitações técnicas. Mateus arrisca uma descrição, mais ou menos precisa (mas nenhuma precisão é possível na transmissão deste bizarre-way-of-playing), dizendo que "Dave Longstreth alternava, na guitarra, a levada à The Contortions com solos que remetiam a um Robert Fripp ou Steve Howe como vistos por Stephen Malkmus".

Já a gracinha de vocalista Angel, vestida num pijaminha amarelo quase infantil, como quem quisesse se sentir de volta ao quarto onde aos 5 aninhos pela primeira vez começou a cantar frente ao espelho, dava a sensação de não ter nascido para o palco e de não saber ao certo o que fazer de si mesma ali em cima -- mas mandou bem com seu "timbre delicado e folk, que se situa entre a voz de uma Joanna Newsom e a de uma Björk" (+Soma).

Para adicionar esquisitices ao quadro já bizarro, as três vozes femininas entoavam cânticos malucos, como se tivessem sido alunas de uma instituição psiquiátrica ou orfanato-reformatório -- o ápice sendo a bela "Stillness Is The Move". Em muitos momentos, davam a nítida impressão de estarem cantando em línguas estranhas, remetendo a “I Zimbra”, música de Fear Of Music em que Byrne constrói uma letra inteira com fonemas que nada significam – ou seja, canta num idioma inventado, fazendo das concatenações de sons arbitrários e sem sentido a inebriante matéria do canto.

Precioso privilégio o nosso: o de poder ver ao vivo os Dirty Projectors justo no momento em que eles, na crista da onda, são consagrados como uma das mais marcantes bandas de 2009. Ouvir Bitte Orca repetidas vezes, abrindo-se à tanta criatividade concentrada e dispersa, é não só ótimo para expandir horizontes sônicos como também é uma lição maior. A de que às vezes “louco” é só um rótulo que os babacas grudam naqueles que se comportam de modos que eles não podem entender ou aceitar - e que são, muitas vezes, muito mais autênticos e criativos do que os comportamentos estereotipados dos normopatas. Caso de Longstreth, artista amalucado que bota fé que o processo da criatividade possa ser contínuo e perpétuo: a criação não gera um "desflorestamento cerebral" e não nos deixa carecas no fim do processo.

DOWNLOADS:

BITTE ORCA (2009)
http://www.mediafire.com/?xdj1m2znlh5


RISE ABOVE (2007)



DAYTROTTER SESSIONS:
http://www.mediafire.com/?xuzumhjzjgw


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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Jingle Bells ROCK!

Caríssimo Noel: não fui uma boa pessoa em 2009. Fiz tudo de errado, e ainda mais um pouco. Não sei se mereço presentes, cartões, votos e garrafas de champagne. Panetones, dispenso. Minha revolta contra estes foi, inclusive, o motivo de tanta rebeldia em 2009. Se podem me vender pães que deram errado, me sinto no direito divino de violar direitos autorais, ignorar quaisquer regras de copyright, baixar álbuns sem permissão, incitar flames em comentários de blogs, e inclusive tuitar de dentro do banheiro. Não quero nada de presente. Nem queria mesmo um álbum muito bacana do Flaming Lips, com alguns dos mais inusitados covers, começando por Kylie Minogue, passando por Beck, flertando com Radiohead e terminando com uma musiquinha de natal massa, véio, pra botar na hora da ceia. Bônus Tracks, por sua conta? Não faço questão, mesmo que sejam em duo com Nick Cave (tocando Louis Armstrong? Duvido!) ou mesmo Pink Floyd só no pianinho. Brincou, né? Tá tirando a favela?

DOWNLOAD!
The Flaming Lips - Yoshimi Wins! Live Radio Sessions
http://www.mediafire.com/?mdql4tgtwdn

Ok, eu compreendo a missão sócio-cultural do senhor, que é entregar presentes pra todo mundo, seja rico, pobre, delinquente, usuário de tremas, ou nada disso. Vou pedir então, de natal, aquela música que emociona a todos que não têm medo de andar de elevador.

SIMONE - "Então é Natal"
http://www.4shared.com/file/73728469/e0296d38/Simone_-_Ento__Natal.html

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

: John Fahey ::


:: John Fahey ::
por Alexandre Nakamura

À convite do meu amigo de longa data Edu "Lusso", a partir desse post começo a contribuir regularmente na casa. Pra começar, um dos favoritos lá em casa: o mestre do blues-grassroots norte americano (muita gente chama hoje em dia de folk, neo folk, experimental.. ele mesmo denominava sua música apenas como "American Primitive Guitar", combinando elementos da música popular norte-americana, como musiqué concrete, field recording, música erudita..): John Fahey.

(ctrl+c/ctrl+p do wikipedia): "John Fahey (February 28, 1939 – February 22, 2001) was an American fingerstyle guitarist and composer who pioneered the steel-string guitar as a solo instrument. His style has been greatly influential and has been described as American Primitivism, a term borrowed from painting and referring mainly to the self-taught nature of his art. Fahey himself borrowed from the folk and blues traditions in American music but also incorporated classical, Brazilian, Indian and abstract music into his eclectic œuvre. In characteristically witty fashion, he once said of his style: "How can I be a folk? I'm from the suburbs you know." In 2003, he was ranked 35th in Rolling Stone's "The 100 Greatest Guitarists of All Time".

Mas informação de wikepédia não leva muito longe né. Então vamos direto à fonte:

"Yellow Princess" (Vanguart, 1968)
Download: http://www.mediafire.com/?nyiq2mhieod



"Return of the Repressed - John Fahey Anthology"(1994, Rhino)
Pra quem curte coletâneas, uma boa opção:
Download: parte 1 - http://rapidshare.com/files/155022508/Fahey_1.zip.html

"The Epiphany Of Glenn Jones"(1997, Thirsty Ear)
Um disco em colaboração com o Cul de Sac, banda experimental dos anos '90-'2000 de Glenn Jones, outro violeiro da mesma escola de "música primitiva americana".
Download: http://www.mediafire.com/download.php?jyjimmq5ine



dos morros da zona oeste paulista,
saudações zapatistas!
alexandre.

blog \\ myspace

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

:: Tocando terror ::


Bonde do Rolê
Entrevista com Laura Taylor
por Francine Micheli

Ela é linda e loira como uma pinup dos anos 50. Poderia ser aeromoça com o porte que tem, ou secretária executiva, ou modelo fotográfica, ou apresentadora de tevê. Mas não.

Laura Taylor passou 15 anos de sua vida na Nova Zelândia e, como filha de bom pai brasileiro, decidiu voltar à convivência da mandioca frita e do tereco-teco de domingo. Em 2008, por não ter nada melhor para fazer - e morrendo de tédio e calor nas terras brasileiras - a garota soube que estavam procurando uma nova vocalista para uma banda estranha, chamada Bonde do Rolê, que na época estourava nas baladas e rádios modernosas com "James Bonde", "Solta o Frango" e "Dança da Ventoinha". Não pensou duas vezes e se candidatou, já que não tinha absolutamente nada a perder.

Naquelas alturas, os músicos da banda - Rodrigo Gorky e Pedro D'eryot, de Curitiba - estavam procurando alguém interessante para substituir com categoria a primeira vocalista, Marina Ribatsky, que deixou a banda após um quebra pau.

O sucesso do concurso - em parceria com a MTV - foi grande e o Bonde escolheu não só uma vocalista, como duas: Laura Taylor e Ana Bernardino.

O fato é que Laura parece ter nascido pra cantar esse tipo de música, uma mistura de ironia indie, com vamo-tocar-terror, com DJ Marlboro e jargões populares, o que resultou em uma espécie de eletro-funk-alternativo. Mistura melhor não podia ser.

Vale lembrar que, pra quem ouve o som do Bonde pela primeira vez e já prepara discurso-pronto de repúdio às letras e à qualidade vocal, é interessante que se aprofunde mais no caso atípico do grupo: eles estão zoando com a sua cara. São pagos muito bem pra isso e são adorados fora do Brasil, principalmente na Austrália, Inglaterra, EUA, Irlanda e Japão, por onde têm excursionado nos últimos anos junto com o Cansei de Ser Sexy.

Na sua apresentação com o Killershoes - trio de garotas DJS de Belo Horizonte, Laura apareceu de macaquinho jeans. E a bota de cowboy, o batom vermelho o jeito de prender o cabelo não deixaram dúvidas sobre o estilo neozelandês de se produzir: um coque bem em cima da cabeça que deixa todo o cabelo parecendo um ninho de passarinho bagunçado. Mas ela estava radiante e logo de cara tacou no toca-disco "Don't Want No Short Dick Man". Ela mostrou a quê veio ao mundo e a galera pirou.

Nós do Depredando puxamos então uma prosa com Laura e ela, gentil que só, ainda se desculpou pelo "português meia boca".

Que nada, a moça é brasileira mesmo.


Depredando - Como você resolveu se candidatar no concurso para a escolha da nova
vocalista do Bonde? Você já conhecia a banda e já cantava profissionalmente antes?
Laura Taylor - Eu estava numa (SIC) crusadilha, queria mudar de vida e cidade e o concurso apareceu na mesma época, senti que tinha nada a perder e me candidatei. Eu nunca tinha pegado num microfone na vida. Primeira vez que cantei foi em um show do Bonde.

D: Já conhecia a banda?
LT: Eu ja conhecia o bonde sim, ja tinha eles no meu setlist e abri um show pra eles em São Paulo discotecando com meu projeto The Killershoes.

D: Como foi o processo de adaptação ao novo trabalho e à nova vida? Teve que mudar muito a sua rotina?

Engordei 10 kilos, acredita? E eu nem sei mais o que é rotina. Essa é a parte mais dificil, não saber aonde você vai estar daqui há 2 meses, se é em casa ou em turnê. Eu odeio voar também, então acostumar com isso foi bem dificil. É muito vôo, muito chá de aeroporto, muita comida de avião!

D: Que tipo de som vc ouve em casa ou no iPod?
LT: Depende de época. Agora estou resgatando cds que já ouvi muito e faz muito tempo que não escuto. Tipo Wyclef Jean's Ecleftic e TLC's Crazysexycool.

D: Você acha que o Bonde ainda tem uma pegada de brincadeira ou a coisa vem ficando mais séria?
LT: Somos quatro retardados, nem tem com perder a pegada da brincadeira.

D: Como tem sido a agenda da banda?
Estamos gravando. O foco agora é terminar e lançar o álbum novo para entrar em turnê para divulgar, mas nos últimos meses fizemos bastante show pelo Brasil que foi incrivel. Tive a oportunidade de conhcer lugares e pessoas incríveis.

D: Onde você mora atualmente?
LT: Estou morando em SP.

D: Você morou bastante tempo na Nova Zelândia. O que foi fazer lá e quanto tempo ficou?
LT: Eu mudei para NZ com 6 anos, minha mãe é de lá. Eu (SIC) ficar lá até meus 18 anos, depois voltei pra cá, depois voltei pra lá de novo e depois pra ca. (risos)
Estou quase vendendo a minha alma pra poder voltar pra lá agora em janeiro para passar umas semanas com os amigos queridos. Quero muito!

D: Trabalhou nas plantações de kiwi?
LT: Haha. Nunca trabalhei nas plantaçõess de kiwi mas já catei maçã.

D: O que você acha da cena musical de lá?
LT: Existe um gosto musical típico neozelandes, que é super chill, quase um reggae. Chega verão lá, está o país inteiro ouvindo Fat Freddys Drop e Fly My Pretties. Acho incrível.

D: Conhece Flight of the Conchords, Gin Wigmore e Lady Hawke?

LT: AMO Flight of the Conchords e tenho as 2 temporadas aqui. Conheçoo Lady Hawke também, mas Gin Wigmore?? Whats dat?

D: Por que voltou pro Brasil?
LT: Vim conhecer as minhas raizes.

D: Você acha que disponibilização de mp3 na internet é crime ou difusão de
cultura?

LT: Baixar o álbum novo de uma banda que você adora é um dos maiores prazeres da vida. Crime pra mim é outra coisa.

DOWNLOAD (via Discoteca Nacional)

domingo, 13 de dezembro de 2009

:: Terra Celta ::

:: TERRA CELTA ::
Ao Vivo no Bolshoi, Goiânia, 10/12/09

por Eduardo Carli de Moraes


"Somos seis aventureiros em busca de uma terra encantada... onde a cerveja é mais gelada... as donzelas são mais belas... e a alegria impera!" É assim que os malucos do Terra Celta apresentaram-se ao público goiano nesta última quinta-feira, quando transformaram o Bolshoi Pub num barco viking a singrar mares de uísque escocês.

Pode até parecer que um show destes paranaenses de Londrina vale mais pelo interesse "antropológico", ou que só vai agradar à quem tem gosto por freak shows, mas este coletivo quer mais é botar todo mundo pra dançar, festejar e se embebedar. E são muito bem-sucedidos neste intento... tocando música celta! Mas o som que fazem é bem mais rico do que leva a supor este rótulo: embarcar nesta viagem-de-som é ir em turismo por pubs irlandeses, cafés parisienses, festas napolitanas, danças judaicas... Eles são os vândalos-bufões mais empolgados que já vi sobre num palco (não que tenha visto muitos...).

A gangue consegue até meter música brasileira no caldo, realizando a proeza de tocar música celta como se fosse baião - o tipo de som que faria Luís Gonzaga se tivesse nascido no País de Gales e tivesse pancinha de breja Guiness. Apesar dos classudos instrumentos - que incluem violino holandês, gaita de foles, banjo, bandolim, acordeom, rabeca e por aí vai - eles caem por vezes num festão popularzão que chega perto duma forrozera, dum arrasta-pé. Nesta ocasião, não resistiram a zoar o sertanojo, estando na cidade que o celebrizou, mas até tocaram uma música de uma dessas duplas compostas sempre por um asno e um otário, ambos com cara-de-cu e com cãibra embaixo.

Fui vê-los com a caranga ideal: meu Celta imundo, ainda encardido da lama duns 700 quilômetros de BR-153. E carreguei minha carcaça pra lá depois de ter tirado o pó das minhas mp3s do The Pogues e ter vestido a saia-da-namorada que mais se assemelha a um kilt (brincaderinha...). E pasmei: pois esperava um tranquilo desfilar de world music bizarrona e os negos vão e mandam umas chineladas na orelha: como uma do Dropkick Murphys, aquela da trilha d'Os Infiltrados, transformando a beira do palco numa espécie de roda-de-pogo ao modo galês.

O público goiano, que não tem preconceito contra nada, apesar de fazer piada de tudo, pirava e pulava dum modo inimaginável. E nem eram uns metaleiros mala fãs de Blind Guardian ou Blackmore's Night. Tavam mais pra nerdões de óculos que acham Tolkien maior que Shakespeare e sonham com a banda-de-rock que honre O Senhor dos Anéis.


Figuraça e showman nato, o vocalista e o violista Fiddler é desbocado, cafajeste e xavequeiro. Até soltou, pruma mocinha na frente do palco, esta eficientíssima pérola de retórica sexual: "Você é tão linda que, se fosse um sanduíche, se chamaria X-Princesa!" Tão terrível que chega até a ser bom. Aposto que a coisa foi quente nos camarins, depois do show...

O Terra Celta, porém, sofre do mesmo mal que acomete o Móveis Coloniais de Acaju e sua feijoada búlgara: em cima do palco são uma banda muito mais sensacional do que em disco. Não que o debut dos paranenses seja ruim - longe disso. Mas ali, apesar da musicalidade rica e variedade instrumental estarem bem representadas na gravação, falta todo o fascínio e empolgação da experiência coletiva que se sagra ao vivo.

As canções falam sobre marujos bêbados, piratas, vikings, cowboys e outros párias das terras e dos mares. Nada muito original nesta celebração devassa da pilantragem e da embriaguez, mas - oh hell! - os caras sabem como fazer uma festa do capeta. Nos sentimos transportados para a Idade Média, em alguma taverna que escapa aos poderes eclesiásticos e às chaturas morais religiosas, onde homens comuns entregam-se aos prazeres da carne, da bebida e da dança. Como pagãos em torno da fogueira, celebrando o deus Dionísio, gastam suas labaredas, já que nada levaremos para o caixão.

Em irônica chacota à caretice e em apologia escancarada dos excessos, fizeram o Bolshoi inteiro cantar, como se Goiânia tivesse virado Glasgow:

Dizem que comer demais faz mal; parem de comer!
Dizem que beber demais faz mal; parem de beber!
Dizem que fumar demais faz mal; parem de fumar!
Mas se disserem que sexo demais faz mal... PAREM DE ESCUTAR!

Eles parecem tocar no intento de transformar todo dia de todo mês numa Oktoberfest de ebriedades outubrinas. Como dizem na canção que fecha o primeiro álbum, eles não querem ir pro céu... porque no céu não tem cerveja. Que chatura não deve ser, ficar tomando leitinho, ao som de harpas! "In heaven there is no beer / That's why we drink it here!", cantam os meninos, aos lá-lá-lás.

Nada seria mais careta da parte destes corsários do que protestar contra a pirataria depredística; pois então pilhem sem pudor o debut dos caras aí embaixo - também disponível no site oficial dos caras (mas lá ele vem caótico: sem o número das faixas, o que nós aqui, muito mais ordeiros, resolvêmo). E não perca a chance de embarcar neste barco viking se eles passarem por sua cidade: não há Moby Dick capaz de afundar a animação desta nau!



E voilà um vídeo excrusivo, gravado no meio da festança céltica:

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

:: Bang Bang, Baby! ::


SEM FIRULA E SEM FRESCURA

- Mesclando punk garageiro, rockabilly e surf-music, o Bang Bang Babies faz um dos noises mais turbinados de Goiânia Rock City -
por Eduardo Carli de Moraes


Ah, a garagem! Não há cômodo domiciliar que mais tenha prestado bons serviços ao rock and roll. O espaço concebido pra guardar carro, apossado pela criatividade maníaca da juventude rocker, acabou virando um santuário onde destroçar tímpanos. Sorte a nossa! Enquanto a mamãe ficava com suas panelas na cozinha, o pai frente à TV da sala e a pivetada brincava na área, alguns danados, adeptos da arte-de-fazer-barulho, procuraram guarida ali, em meio à graxa e à fuligem, por vezes em meio a um calor dos infernos, e mandaram bala. E até hoje, ainda que não toquem mais no aperto do inferninho automotivo, há bandas que continuam com o espírito fidelíssimo à ela.

É o caso da Bang Bang Babies, uma das bandas nacionais recentes que com mais punch e pegada honra o som-garageiro de todos-os-tempos. Inserem-se numa árvore genealógica que, saindo dos anos 60 com Stones, Kinks e Sonics (sem falar de mais mil e uma bandinhas obscuras), passa pelo proto-punk, pelo punk '77 e vai dar em Cramps, Jon Spencer e White Stripes, dentr'outros. Na ativa desde 2005, o grupo soltou recentemente "Love and Bullets", seu segundo long-play, lançado via Monstro, com excelente produção e raw-power transbordante. É o Thee Butchers Orchestra fazendo escola. E a prova de que a garagem ainda pulsa!

Os caras, ao vivo e em disco, soam como uma bandaça energética e noisy, apesar de tosca, que apesar de ter começado na década 2000 não parou de celebrar e honrar bandas das antigas, demonstrando grande conhecimento da história do rock de garagem e dos primórdios do punk. Não à toa, poucos dias antes desta entrevista os caras tinham dado um pulo em Sumpaulo para conferir Iggy Pop e os Stooges, no festival Planeta Terra, com a formação do clássico Raw Power. "O James Williamson tocou mal pra caralho!" (risos), não perdoou o guitarrista da Bang Bang Vital - mas o show de Iggy e sua trupe foi elogiado pelos caras, que costumavam tocavam "Loose", do clássico Fun House, anos atrás.

A classuda capa do álbum, duma estética que vai soar familiar a quem já viu o badalado clipe de "Favorite Way", dos Black Drawing Chalks, ficou a cargo da galera do Bicicleta Sem Freio - agência de design que anda dando uma cara cool e kill-billesca para muitas bandas de Goiânia, com uma certa influência das pirotecnias psicodélicas à la Queens of The Stone Age em "Go With The Flow".

Neste XV Goiânia Noise, os caras foram escalados para abrir a noite de quinta-feira, no pub com cara de rep Metrópolis. Com decibéis em excesso e empolgação de sobejo, mandaram ver 10 pancadas nuns 30 minutos de som, provando que com eles não tem firula nem frescura. Pelo chão, após a passagem do ciclone, espalhavam-se, como despojos de guerra, os cadáveres de um público bangueado sem dó. Na mesma noite, tocaram ainda o Sapatos Bicolores de Brasília (jovem guarda tocada como se fosse Elvis Costello) e o The Name de Sorocaba (modernoso róque-de-pista-de-dança que honra Rapture, Kasabian e Franz Ferdinando).

Dias depois, trombando os caras nas dependências do Centro Cultural Martin Cererê, pouco depois do show dos Argentinos do Los Lotus (com que o Bang Bang Babies dividiu o palco para um show extra na ressaca do Noise), batemos um papo com o núcleo da banda - Pedro (voz/gtr) e Vital (gtr/voz). Completam a turma o baixista Pintin e o batera Hélio.


DEPREDANDO: De onde saiu o nome da banda? Fiquei imaginando, já que vocês se declaram fãs de westerns de Sergio Leone e spagghettis, se poderia ser uma homenagem à Kill Bill...

PEDRO: Na real o nome num tem uma lógica: soou legal e pronto! Num tem que ter sentido não... Mas com certeza a banda tem muita influência indireta de cinema e de quadrinhos, apesar da gente num citar isto especificamente nas letras. Muitas músicas nossas falam disso mesmo: violência, tiro e morte! (rs)

VITAL: A gente sempre curtiu muito esses filmes de Velho Oeste e costumava até pôr aquele som da Nancy Sinatra, "Bang Bang" (que abre os créditos do filme de Tarantino), na abertura dos nossos shows.

DEPREDANDO: Que bandas vocês consideram como referências e influências maiores no som de vocês?

PEDRO: Nossa referência sempre foi um som mais proto-punk, à la Stooges, um som setentista mais rock-and-roll, mas que não fosse nem hard-rock nem progressivo. Resumindo: som tosco e barulhento dos anos 70. Curtimos muito as bandas de garagem dos anos 60, tipo o The Sonics e The Seeds. Também nos espelhamos muito em Gories, Oblivians e Cramps - sempre essas coisas mais garageiras, já que som com essa proposta quase ninguém faz hoje em dia. Isso já foi moda, lá pelo começo da década 2000, quando o The Hives tava estourado, ou no ápice do Blues Explosion, quando surgiu um monte de banda garageira, mas depois deu uma caída.

VITAL: O Strokes também trouxe uma onda meio garageira, mas misturada com um lance meio indie-anos 90, com aquelas guitarrinhas "pim-pim" (rs), bem agudinhas!

PEDRO: Também curtimos muito a coletânea Nuggets - Original Artyfacts From The First Psychedelic Era, que é imbatível, uma das melhores coletâneas já lançadas, se não a melhor. São coisas muito obscuras e raras, de bandas que às vezes lançavam um single só, nem chegavam a gravar álbum. Com as limitações técnicas e financeiras da época, a galera tinha que se desdobrar pra fazer do jeito deles, e é essa atitude transgressora do rock garageiro que a gente gosta. E o cara que fez a seleção, o Lenny Kaye, o guitarrista da Patti Smith, pesquisou muito o underground garageiro sessentista pra fazer isso. É uma grande referência

DEPREDANDO: Também rola uma influência de surf music no som, não?

PEDRO: Com certeza! Só que a gente é tosco e não sabe tocar surf music direito, aí vira surf-punk. Um som tipo The Mummies, que é uma espécie de surf-punk, também influenciou muito a gente. Que é essa idéia do surf-tosco...

VITAL: O próprio climão do Cramps tem uma puta duma ondinha surf. A gente até pensou em fazer um disco todo só de surf tosco. E vai rolar, velho... Vai rolar algum dia. Eu gosto pra caramba de surf e de rockabilly, além de já ter tido banda indie antes de banda-de-garagem. Uma pá de música surf que a gente fez a gente aposentou pois num dava conta de tocar (rs). A gente ouviu muito surf das antigas, tipo Dick Dale e The Ventures. Hoje em dia, tem 3 bandas de surf que eu elejo as mais foda da América do Sul: a Dead Rocks, de São Carlos, uma das melhores bandas de surf do continente, que é sensacional! Os caras sabem fazer o clássico, mas também o mais agressivo, saca? Muito, muito bom! E nós somos amigos dos caras, que até já nos levaram pra tocar em São Carlos (SP), num evento que teve uma banda de surf, uma de rockabilly e uma de garagem - foi um dos melhores eventos que a gente já tocou, uma festa foda! Os caras anunciaram o show num Hot Rod, aquele carrão das antigas, e a galerinha chegava de lambreta... foi muito louco! Mas num vou ficar pagando muito pau pros caras senão eles vão ficar enjoados... Johnny Crash: pau no seu cu! (rs) Além do Dead Rocks, ponho no top 3 o The Tormentos da Argentina e o Supersonicos do Uruguai - todas elas já tocaram aqui em Goiânia e eu pirei. São três bandas que eu acho foda e que todo mundo tem que escutar.

PEDRO: Hoje em dia, aqui em Goiânia, somos uma das poucas bandas que têm essa influência surf -- porque grande parte da galera foi numa onda mais stoner-rock, de som pesado, isso é que pegou e tá dando o tom aqui hoje em dia. É só ver o Black Drawing Chalks, MQN, Hellbenders, Mechanics... É uma galera influenciada por Queens of The Stone Age, Kyuss, coisas mais pesadas. Nada contra isso, mas o lance garagem mal existe em Goiânia hoje - e a Bang Bang é que tá tentando manter isso vivo. A gente num é uma banda pra bater cabeça - só pra dançar toscamente! (rs) No passado já teve muita banda garagem foda em Goiânia, tipo a Hang The Superstars - e mesmo o MQN tocava garagem no primeiro álbum, Hellbusrt. Hoje em dia não tem mais: a Hang acabou e o MQN e o Mechanics viraram banda de metal. Nada contra. Mas eles tinham outra onda.

VITAL: É a gente mantendo vivo o garagem em Goiânia! (rs)



DEPREDANDO: E o Goiânia Noise? Vocês já tocaram aqui várias vezes, né?

VITAL: É o terceiro ano que a gente toca e o nono ano que a gente vem. Desde 2001 a gente vem no Noise. Em 2001 vim aqui pra ver o Dead Billies e o Nebula, e véio... nunca mais saí daqui! Em 2006, primeiro ano que a gente tocou no Noise, ele foi realizado pela primeira vez no Centro Cultural Oscar Niemeyer, que é muuuito grande e tem uma estrutura radical - e quando eu entrei lá eu fiquei assustado com o quanto tinha crescido. A gente já sabia o quanto era grande em questão de mídia e de todo mundo falar bem, mas foi impressionante ver o quanto era grande fisicamente, não só o conceito. Já em 2009 é incrível que esteja rolando festival na quarta, quinta, sexta, sábado e domingo - todos os dias bombados, e eu boto fé que vai bombar amanhã também! [a entrevista foi no sabadão e, confirmando a profecia de Vital, o Noise do Domingão tava tinindo!] Foi arrojado e está dando muito certo.

PEDRO: E hoje o Noise tá com este formato "espalhado pela cidade", que aconteceu pela primeira vez e funcionou muito bem. As casas tavam todas lotadas, e aqui no Centro Cultural Martin Cererê foi a mesma coisa. Pena que era pra ter sido no Oscar Niemeyer, um lugar bem mais amplo que este aqui, e que permitiria até trazer uns headliners maiores, mas como este espaço não foi liberado pelo governo, teve que ser aqui no Martin mesmo - que é um puta dum lugar, muito clássico no rock goiano, mas que já não funciona tão bem como estrutura pro tamanho do Noise.

DEPREDANDO: E a "cena" de Goiânia é de uma força incrível, até mesmo pra quem chega de São Paulo ou de outras metrópoles... Não é à toa que andam chamando a cidade de "nova capital do rock brasileiro", né?

PEDRO: A gente já viajou por algumas cidades, fomos a alguns festivais que fomos convidados, e a gente via as bandas das outras cidades e não tinham nem um pouco da qualidade que as bandas daqui têm, sabe? Apesar da tendência maior ser o som pesado, aqui tem muitas bandas diversificadas, de vários estilos, cada uma mandando bem de seu jeito. E o Noise exige uma qualidade pra entrar no evento. Se a banda num for boa, não vai tocar. Num adianta.

VITAL: Acho que as bandas daqui ensaiam mais, têm mais pressão! E tocar pra amigo não é fácil, saca? Amigo pode fazer uma crítica muito pior! E pelo menos o pessoal de Uberlândia ficou impressionado com o tanto que o pessoal daqui ensaia pra caramba, o tanto que faz show, antes de chegar a tocar no Noise... Tem muuuita banda que rala muito e acho que é isso que fortalece. Sem falar que tem espelhos bacanas também - e a gente não pode tirar o mérito de jeito nenhum do MQN e do Mechanics, que a gente vê e diz: "temos que fazer um lance bacana assim!"

PEDRO: Tem outras bandas também, que não são da Monstro mas são do caralho, tipo o Desastre, que já lançou vários LPs na Europa inteira e nunca foi tão valorizada pela mídia nacional, mas que fez um trampo fodido.




DEPREDANDO: Planos pro futuro... quando vêm o sucessor de "Love and Bullets" e qual naipe de som devemos esperar? Algo ainda mais raw power, pra botar fogo na garagem?

PEDRO: A gente tá em processo de gravação de um compacto que procura resgatar esta sonoridade lo-fi da época da Nuggets. Nossos dois CDs anteriores foram gravados com alta tecnologia, no Rock Lab, então as músicas tem uma pegada garageira mas com "computador por trás". Ficou legal, muito bem produzido, mas agora a gente quer ir pra outro lado, experimentar outra coisa - que é este lado mais lo-fi e mais sujo.

VITAL: Cara, a gente tá usando um ampli que é do tamanho deste teu gravador! (rs) [nota: a entrevista foi gravada num Mini Cassette Recorder de fita K7, mais ou menos do tamanho dos velhos Walkman Sony]. É loucura, cara! E a proposta é muito boa: porque com a limitação e as dificuldades a banda vai crescer pra caramba, sabe? E isso já tá acontecendo: já tamos crescendo muito musicalmente.

PEDRO: Nêgo ouve estas novas gravações e diz: 'Num é possível cês terem gravado essas guitas neste ampli de brinquedo!" (rs) Mas foi a real, cara: foram 4 canais, e tem música que tem 3 guita gravada! É um processo que tá exigindo que a banda tenha que se desdobrar 10 vezes mais do que se estivesse gravando normalmente, com toda a tecnologia que se usa em estúdio hoje. É cansativo, mas é ainda mais divertido porque a gente tem mais possibilidades de experimentar.

VITAL: Hoje tá muito fácil gravar, né cara? Tá acessível demais. Eu lembro que no passado eu ouvia umas bandas underground e o show era sempre muito melhor que o disco, mas a tecnologia ficou tão foda que hoje qualquer um consegue gravar um disco com qualidade de som e produção bacana. O que a gente tá tentando passar no disco é a energia do show: é um lance de não enganar a nós mesmos e nem ao público.

PEDRO: É: a maioria das bandas hoje e dia tem um disco muito melhor do que o show - e eu acho que isso não é certo. Tem tanta tecnologia disponível que os caras vão e fazem um CD do caralho, mas cê vai ver no palco e... num é a mesma coisa. Inclusive a gente: não dá pra reproduzir ao vivo o que a gente fez no estúdio. Isso é foda: tem tanto recurso disponível que você grava com uma pegada que é impossível levar pra performance ao vivo - e é o que rola com 90% das bandas hoje em dia.

DEPREDANDO: Mas que tipo de modificação sonora estes novos procedimentos de gravação vão trazer pro som da Bang Bang? Ele vai ficar mais "leve", sessentista e psicodélico?

PEDRO: Que nada, o som tá é mais sujo!

VITAL: Muito mais sujo! Tá muito legal, pra falar a verdade, toda a feitura. O processo é muito longo, saca? A gente abraçou a idéia, e está tendo as mesmas dificuldades técnicas que tiveram os caras que a gente gosta, e tamos tentando ser toscos da mesma forma. Mas tosco no sentido de simples, não no sentido de ruim! Porque pra mim tosco não é sinônimo de ruim, é sinônimo de simples.

DEPREDANDO: O que é um pouco o grande lance do punk, não é? O importante é a expressão simples da emoção - não precisa ser complexo, cheio de virtuosidade, com mil notas por segundo...

VITAL: Mil notas por segundo?!? (hahaha) É isso aí! Com certeza tem mó influência de punk e proto-punk no nosso som.

PEDRO: Punk '77 tem muita banda legal, tipo o The Damned. O pessoal fala muito de Sex Pistols, mas eu acho uma bosta. Na época teve muitas bandas melhores! [o camarada ao lado olha feio, quase saltando nas carótidas de Pedro frente à heresia proferida...].

VITAL: Hahaha! Ele ficou inconformado, velho! Declaração polêmica! Num podia faltar!

DEPREDANDO: E da cena nacional, quais são as referências?

PEDRO: O Butchers pra mim é a principal, mas tem outras, tipo o Dead Billies da Bahia, que já acabou. Quando eles tocaram aqui no Noise a gente pirou, chocou fodidamente. Tem também uma banda paulistana que ninguém conhece, o Sell-Outs... Na época, todo mundo pagava pau pro Butchers, mas o Butchers chupou muita coisa deles.

VITAL: E tem que falar também do Damn Laser Vampires, banda recente de Porto Alegre, de 2007, a banda mais massa que tá rolando no Brasil.

PEDRO: É a banda nacional que hoje em dia a gente mais pira. A gente assistiu o show deles aqui faz pouco tempo e foi massa, foi foda!

DEPREDANDO: Pra finalizar, façam um Top 5 Bandas-Da-Vida!

VITAL: Caaara, eu curto muita banda que não tem a ver com o som da Bang Bang, mas muita banda que tem a ver... curto muito tudo do Jon Spencer. Muito Stooges. Sou fã incondicional de Sonic Youth, que pra mim é aula-de-guitarra. Também gosto pra caramba de Dinosaur Jr, outra banda mó guitarreira, tava até vendo os caras numa revista de skate, cê pira? (rs) E atualmente tô ouvindo demais demais o Oblivians. Cara, eu posso falar umas 10! Top 5 chega a ser foda...

PEDRO: O meu top 5, não necessariamente nesta ordem: Blues Explosion (e o resto dos projetos do Jon Spencer, até o Boss Hog é foda!), Bo Didley, Clash, Stooges e o Oblivians - banda garageira que a gente tá pirando.

DOWNLOAD [autorizado pela banda]:
10 faixas - 25' 15'' - 34 MB -192kps
http://www.mediafire.com/?ytrnhgvddtt

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sábado, 5 de dezembro de 2009

Rockin' the party


LUDO
por Francine Micheli

Já te aconteceu de olhar uma pessoa e pensar: "esse é o/a homem/mulher da minha vida"? Pois bem, foi exatamente essa sensação que eu tive quando ouvi pela primeira vez esses malucos do LUDO. Exageros à parte, achei mesmo que teria direito a arrepio na espinha, sangue gelado e borboletas no estômago. Aquela banda pela qual eu gastaria 40 dólares num cd (ou $9,99 no iTunes), da qual eu comentaria com todos os meus amigos, a qual eu ouviria toda noite antes de dormir.

A minha experiência pessoal com esse quinteto foi muito por acaso, durante fuçações na internet no distante começo de 2008. Quando vi pela primeira vez o videoclipe de "Love me dead" - o grande çuçeço da banda, o coração acelerou.

Vinda diretamente de St. Louis - EUA, e com um nome até bastante xexelento, LUDO é uma daquelas bandas extremamentes viciantes que te fazem recusar a cervejinha do final de semana ou até mesmo esquecer que seu namorado ta te esperando com a barraca armada no quarto.

O power pop que eles fazem é irônico, inteligente, cheio de non-sensices e mais do que dignos de capas em NME, Rolling Stone ou Clashs da vida.

Além de tudo, o lider e vocalista Andrew Volpe tem um quê de Jim Carrey que quando se junta ao seu vozeirão de potência elástica faz emergir um artista mais do que completo, pronto pra abrir os braços e ter o mundo inteiro aos seus pés. Mesmo com seu sex appeal de chimpanzé reumático.
Resumindo, é tipo aquela banda que você daria tudo pra fazer parte dela. (isso é um comentário particular).

Fazia muito tempo que não via um clipe de tamanha criatividade - e aproveitamento de orçamento limitado, o que prova de uma vez por todas que, como diria o profeta Faustão, essa é uma das maiores bandas dos últimos tempos. Eu acrescentaria dos últimos tempos que ainda estão por vir, graças ao (não por muito tempo) anonimato no choubiznes. E tanto é que o çuçeço dos caras já foi previsto pelo Dr. House, cuja penúltima temporada conta com a mesma "Love me Dead" na trilha sonora. É pura poesia e frases como "How's your new boy? Does he knows about me? You've got the mark of the beast" pululam disco abaixo.

O primeiro cd "LUDO" é um garajão de primeira, já "You're awful, I love you" é de estourar os tímpanos, contagiante como ele só. "Broken Bride", o terceiro, segue a mesma linha, mas com uma maturidade maior sem deixar de lado o lado pop, indie, rocker, ou qualquer coisa que possa identificar a banda.

DOWNLOAD

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

:: TOPs 10 2000-2009 ::

Década Danada
- Bernardo Santana -

(Esse post não reprenta a posição dos outros colaboradores-truta deste blog. Os deles vêm em seguida. Se tudo der certo... Para baixar, clique na capa do álbum.)

1º — STROKES/Is This It?
Barbada. Além de ser um puta disco roqueiro dançante legalzão cheio de hit combos, o Is This It? merece o topo porque fez a década. Fez no sentido de ser o som a ser copiado por todo mundo, tipo assim o… “novo Nirvana”! Yey! O mérito e a culpa do que veio depois não é dos caras da banda, claro, mas eles deveriam saber de que depois de colocar na praça sons do naipe de Last Nite, Hard To Explain, The Modern Age e Take It Or Leave It todo mundo ia procurar suas calças apertadas no brechó mais perto de casa.

2º — AT THE DRIVE-IN/Relationship of Command
Se o Strokes foi o que foi, o At The Drive-In foi o que deveria ter sido. Mas não, a banda preferiu “entrar em hiato” do que continuar lançando discos pesadaços e perfeitos como esse. Um som ao mesmo tempo original, acessível, intrincado, estranho, toneládico, lírico e intrigante. Eu até hoje não consigo nem traduzir as letras, quanto mais entendê-las por completo. E no palco o bicho também pegava feio, como qualquer consulta ao YouTube pode comprovar muito bem. Pattern against user, de fato, amiguinhos!

3º — LIBERTINES/Up The Bracket
Outra grande banda que se foi muito antes do que deveria, mas que entregou num disco só o suficiente pra uma carreira inteira de clássicos. A música caótica com ecos do Clash dos putinhas rendeu embaraçosas seções de air guitar a este que vos escreve (err… quando eu ainda tinha idade pra isso, claro…) nesta primeira década do milênio. Ao lado dos Strokes, banda mais influente da década na minha humilde opinião. O problema é que ninguém mais no mundo sabe tocar como eles… Ouça Time For Heroes pra entender.

4º — MEDESKI, MARTIN AND WOOD/Let's Go Everywhere
O trio danado do jazz/funk nova iorquino foi covarde com esse Let’s Go Everywhere. Além de estar em verdadeiro estado de graça instrumentalmente, ainda fizeram uma bolachinha pras crianças do mundo. Ah, mas que bunitinho… E o pior é que a iniciativa-Michael deu certo demais. É o disco de jazz mais palatável não só desta década, mas de toda a história da humanidade! Ok, forando a empolgação de fã novo dos caras, é clássico pra se ouvir por muito e muito tempo ainda. Do lado do bercinho e tal…

5º — PEARL JAM/Pearl Jam
Põe o dedo aqui quem não dava mais nem uma batata pelo Pearl Jam depois da virada do século… Mas toda a desconfiança e espera entediada vinda com os lançamentos menos inspirados acabou com essa bolachinha incrível de 2006. World Wide Suicide finalmente resolveu o que eles tentavam fazer com o som nos últimos cinco anos, Parachutes fez o mesmo no quesito baladas e Unemployable é coisa inédita no repertório pra surpreender macaco velho. O resto é só foda pra caralho.

6º — JACK JOHNSON/In Between Dreams
Pra fogueira com os malditos puristas. Pop para as massas pode ser música boa, sim! Sob o risco de ser deserdado por 97% dos camaradas, eu afirmo: Jack Johnson pra presidente. De ponta a ponta, um disco que baixa a rotação desse mundo neurótico e ainda tem as manhas de falar de amor bobo sem parecer… bobo. 14 perolinhas despretensiosas jogadas aos porcos com aquele vocal meio percussivo do surfista e por sua mão direita única no violão.

7º — RYAN ADAMS/Gold
Outro potencial destruidor de amizades rockers quase certeiro, mas que vale a pena o risco. Vindo de uma carreira já bem interessante naquele negócio que costumava se chamar Alt Country, Ryan Adams se equilibrou em sua carreira solo entre o som “já ouvi isso antes” e o breguinha fabuloso da música caipira dos EUA. E o melhor foi que ele conseguiu fazer bons discos com isso. Gold, pra mim, é o melhor de longe, com suas 478 baladas românticas de chorar e seus 1/5 rocks caipiras. Mas é bom demais. Juro!

8ª — MORRISSEY/You Are The Quarry
A carreira solo do ex-vocalista dos Smiths já teve seus providenciais altos e baixos, hits e malices, mas You Are The Quarry é o ponto mais alto do poeta vegan de Manchester nesta década. Com uma banda decente finalmente, e arranjos de cordas sem afetação, o som competente e ganchudo do disco quase faz a gente esquecer que as atormentadas letras do topetinho atormentado só melhoram com o tempo. Elas ainda fazem parecer que ele é um coitado miserável que o mundo esqueceu… Mas, por deus, que coitado talentoso.

9º — FIONA APPLE/Extraordinary Machine [bootleg]
A primeira versão do terceiro disco da cantora e pianista americana (a gravadora disse não e pediu reforma) é uma bagunça. Musical da Disney misturado com jazz, mas inteiro assoviável, Machine é uma obra de arte perfeita sendo pervertida por uma classe de crianças de dois anos esquecida num estúdio. E todas elas vivem na cabeça de uma menina perturbada que canta como um passarinho chamada Fiona Apple. Música lúdica maluca.

10º — LOS HERMANOS/Bloco do Eu Sozinho
Sem precisar forçar nem um pouco a amizade e o bom senso pra colocar um disco nacional no top 10, aqui estão eles. Mais que todas as músicas bacanas que conseguiram fazer aqui misturando weezer, outras alternativices, hardcore, ska e já bastante samba e MPB, o Los Hermanos ainda teve o peito e o talento pra ser a primeira (e até agora única) banda indie gigante do país, peitando gravadora e o caramba. Seria histórico mesmo sem o repertório original e já clássico dos caras em Bloco. E viria mais depois.

[Menção honrosa] – SILVERCHAIR/Young Modern
Se você não ouviu o Silverchair depois que eles deixaram de fazer sucesso (ou seja, nesta década), esqueça o conceito que tem da banda agora. Cada vez mais, Daniel Johns e companhia vão rumando pra esquisitice musical do bem, tentando criar melodias perfeitas que ninguém nunca fez antes e um instrumental de rock sem clichês. Trabalho ingrato depois de mais de 50 anos do gênero, mas que vem dando frutos como em Young Modern. Vale ouvir e fica como representante de todos os discos foda que não entraram na lista.

E por hoje é só.